Nutrição é a chave no combate e na prevenção de diversos tipos de câncer
No Dia Mundial de combate ao câncer e Nutrição (08/04), especialistas ressaltam o papel da boa alimentação na redução dos riscos de incidência de tumores malignos
Que a alimentação saudável auxilia no fortalecimento do sistema imunológico, muitos sabem, mas um dos maiores desafios para os especialistas da área têm sido estudar, comprovar e fazer com que as pessoas se conscientizem da importância da nutrição adequada na prevenção do câncer, um dos principais problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. De acordo com uma pesquisa sobre esse tema, feita pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) em 2017, metade das pessoas ouvidas não faz exercício físico e uma em cada quatro não vê a obesidade como problema relacionado ao câncer.
"A nutrição inadequada é classificada como
a segunda causa de câncer que poderia ser prevenida, atrás apenas do tabagismo,
segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Cerca de um terço de todos os
cânceres humanos está relacionado ao tipo de alimentação", explica Rodrigo
Cunha Guimarães, oncologista do Grupo Oncoclínicas.
Segundo o médico, a adoção de comportamentos protetores, como
seguir uma alimentação saudável, fazer atividades físicas com regularidade,
evitar bebidas alcoólicas e manter o peso adequado são capazes de evitar 28% de
todos os casos de câncer, também de acordo com estimativas do INCA. E essa é
uma porcentagem relevante se considerarmos que 625 mil brasileiros devem
receber o diagnóstico da doença em 2021. O assunto também é relevante por conta
dos números globais: uma a cada cinco pessoas desenvolverá ao longo da vida
algum tipo de tumor maligno e o câncer é a segunda principal causa de morte no
planeta, conforme aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Uma alimentação rica em alimentos de
origem vegetal como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e
outras leguminosas e que seja, porém, pobre em ultraprocessados, como os
prontos para consumo e as bebidas açucaradas, pode prevenir novos casos de
câncer. Isso porque o excesso de gordura corporal provoca alterações hormonais
e faz com que nosso organismo fique em constante estado inflamatório, o que por
sua vez estimula a proliferação celular e dificulta o processo ativo de morte
‘programada’ das células - inclusive aquelas que apresentam problemas, que
podem se tornar nocivas à saúde. Esses são fatores que sabidamente contribuem
para o surgimento de tumores malignos", diz Rodrigo.
Vale lembrar ainda que as evidências científicas apresentadas
na última década têm relacionado dietas baseadas no consumo de açúcar, gorduras
saturadas e gorduras trans e alimentos ultraprocessados com o favorecimento dos
índices de câncer de várias formas. A exemplo disso, as mais recentes análises
do Fundo Global de Pesquisa sobre o Câncer (WCRF) e do Instituto Americano de
Pesquisa para o Câncer (AICR) indicam que a ingestão de fast food e alimentos
com alto teor de sódio e açúcar estão aumentando em todo o mundo, levando ao
crescimento global de sobrepeso e obesidade e, consequentemente, a mais casos
de câncer.
No caso do câncer de mama, que figura como o mais incidente
entre toda a população global, recentes estudos demonstram que diferentes
componentes dos alimentos, bem como uma boa qualidade alimentar, sendo fontes
de vitaminas, minerais e compostos bioativos, podem ter relação direta na saúde
celular, podendo influenciar no não aparecimento da doença, agindo como fatores
de proteção.
"No total, temos indícios de que ao menos 13 tipos de
câncer estão associados aos maus hábitos alimentares e excesso de peso. Na
neoplasia de mama, o estilo de vida é fator determinante e há uma relação
íntima com o padrão da alimentação - motivo de investigação científica
crescente por conta da complexidade em desvendar todos os seus mecanismos.
Fazem ainda parte dessa lista de tumores que têm sua crescente incidência
ligada ao nosso tipo de consumo de alimentos os de colorretal, de útero, da
vesícula biliar, do rim, de fígado, de ovário, de próstata, mieloma múltiplo,
esôfago, pâncreas, estômago e tireoide", explica a nutricionista
oncológica Rafaela Peixoto, também do Grupo Oncoclínicas.
Dietas ricas em carboidratos de rápida absorção, excesso de
peso corpóreo e circunferência da cintura elevada podem ainda acarretar em
outras doenças crônicas como diabetes tipo 2, pressão alta, insuficiência
cardíaca e depressão, além do câncer. Adultos com obesidade grave desde a
infância vivem até dez anos menos em relação aos que mantiveram um Índice de
Massa Corporal (IMC) - cálculo que considera o resultado do peso dividido pela
altura ao quadrado - ideal para adulto 18,5 a do 24,9 kg/m2 e 22 a 27 kg/m2
para o idoso. Acima desse valor a pessoa é considerada com sobrepeso, enquanto
o IMC superior a 30 indica obesidade e quando atinge a marca de 40 ou mais
configura a chamada obesidade grave ou grau III, um sinal de alerta para um
alto risco de mortalidade geral.
Vilões no prato
São algozes e podem favorecer o aparecimento de
cânceres, assim como outras doenças crônicas, o consumo de: sal em excesso;
alimentos ultraprocessados; alimentos muito condimentados; temperos
industrializados, que aumentam a incidência de câncer gástrico; excesso de
carne e gordura animal; enlatados; carnes processadas/embutidas (salsicha,
linguiça, presunto, peito de peru e blanquet de peru, bacon); nitritos e
nitrato, presentes em alguns alimentos industrializados - o objetivo dessa
substâncias é conservar e realçar o sabor - estão relacionadas com maior
incidência de câncer de próstata, pâncreas, cólon e reto.
Além disso, os defumados e churrascos são impregnados pelo
alcatrão proveniente da fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do
cigarro e que tem ação carcinogênica conhecida.
"Se em vez disso, sua dieta for incrementada por frutas
e hortaliças frescas e orgânicas, o cenário muda. É que determinados compostos
presentes nestes alimentos impedem a mutação do DNA, criando uma espécie de
proteção contra lesões celulares. Alguns alimentos específicos, como a cúrcuma,
conhecida como açafrão da terra, também estão associados com a inibição do
crescimento das células cancerosas", ensina Rafaela Peixoto.
E as dicas de alimentação balanceada são também valiosas para
garantir melhores respostas aos tratamentos de quem recebeu o diagnóstico do
câncer.
"Quem tem a doença pode e deve repensar os hábitos
alimentares, aumentando o consumo de nutrientes para fortalecer a imunidade.
Além disso, é muito importante fazer um acompanhamento com um nutricionista
especializado", ressalta o oncologista Rodrigo.
O último relatório do Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer e
do Instituto Americano de Pesquisa do Câncer destaca a importância de uma dieta
saudável na prevenção do câncer de forma global. Veja as principais orientações
do documento que é baseado nas evidências listadas pela Universidade da
Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos:
● Mantenha o peso adequado;
● Siga fisicamente ativo;
● Consuma uma dieta rica em vegetais (frutas, verduras,
leguminosas, grãos integrais…);
● Limite o consumo de fast food e alimentos processados ricos
em gordura, amido e açúcar;
● Modere na carne vermelha e processada;
● Reduza a ingestão de bebidas açucaradas;
● Diminua o consumo de bebida alcoólica;
● Para as mães: amamentem seus bebês;
● Não fume;
● Evite exposições solares em excesso
Também para ajudar a população em geral e os
pacientes oncológicos a adotarem hábitos de vida mais saudáveis, o Grupo
Oncoclínicas disponibiliza um guia completo com dicas para uma dieta balanceada
com muitas cores e sabores, ideias simples para a prática de atividades físicas
e outras informações para vivermos mais e melhor. O material está disponível
no: www.grupooncoclinicas.com/
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