Desvendando o Universo do Autismo: Uma Conversa Esclarecedora com a Dra. Regiane Souza Neves

Desvendando o Universo do Autismo: Uma Conversa Esclarecedora com a Dra. Regiane Souza Neves

Por Redação 03/04/2024 - 14:03 hs

No dia 2 de abril, celebramos o Dia Mundial do Autismo, uma oportunidade para refletirmos sobre a importância deste tema e sua relevância para a sociedade. É fundamental que todos possam compreender melhor o Espectro Autista, aumentando a conscientização e o entendimento sobre como oferecer apoio e identificar suas características. Em busca de esclarecimento, buscamos a Dra. Regiane Souza Neves, uma renomada profissional com vasta experiência em saúde mental, neuropsicologa, neuropsicopedagogia, psicanálise, psicomotricidade, psicopedagogia e pedagogia. Em uma entrevista exclusiva ao Portal NOR, ela compartilha insights valiosos sobre o assunto. Continue lendo para saber mais.

 

 

NOR: O que é o Autismo?

Dra. Regiane: Autismo ou TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um transtorno do neurodesenvolvimento que causa dificuldades de menor ou maior comprometimento nas áreas de comunicação, interação social e comportamento. O TEA é um distúrbio comum do desenvolvimento neurológico que influencia significativamente a vida das pessoas afetadas e de suas famílias, pela necessidade de diversos serviços educacionais, de saúde e outros. A prevalência de pessoas com TEA vem aumentando progressivamente ao longo dos anos. Em 2004, o número divulgado pelo CDC era de 1 a cada 166 diagnosticados. Em 2012, esse número estava em 1 para 88. Já em 2018, passou a 1 em 59. Em 2020, a prevalência divulgada estava em 1 em 54. Publicado em 2 de dezembro de 2021, o relatório do CDC mostrava que 1 em cada 44 crianças era diagnosticada autista. Atualizada a cada 2 anos nos Estados Unidos, atualmente, o número é ainda maior que as estimativas do último estudo. Segundo dados coletados no último ano, foi publicado em 23 de março de 2023, que o número atual é de 1 em cada 36 crianças. Porém, este estudo especificamente é realizado apenas com crianças na faixa etária de 8 anos e os números são ainda maiores somados aos estudos com outras faixas etárias também realizados pelo CDC. CDC é o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, que fornece dados para todo o mundo e é a principal referência mundial a respeito da prevalência de autismo.

 

NOR: Dificuldades no comportamento e atraso no desenvolvimento podem ser Autismo?

Dra. Regiane: Quando os pais, a escola ou o pediatra, identificam problemas no desenvolvimento da criança, seja na fala, na motricidade, na interação social, no comportamento inadequado, entre outros, a criança deve ser avaliada por um profissional especializado em diagnóstico clínico. Nem todas as crianças e adolescentes que chegam no meu consultório com queixa de atraso no desenvolvimento ou problemas comportamentais, são realmente diagnosticados com algum transtorno ou distúrbio, muitas vezes o "atraso", é por falta de estímulos adequados para desenvolver e potencializar suas habilidades e competências. Mas, quando o procedimento de avaliação me leva a identificar um distúrbio ou transtorno do neurodesenvolvimento, é realizado o protocolo para diagnóstico baseado nos critérios internacionais da American Academy of Pediatrics (AAP) e da American Psychiatric Association (APA) em seu Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition – DSM-5), incluindo histórico e observação de comportamentos característicos.

 

NOR: Como é o procedimento do diagnóstico?

Dra. Regiane: Além do protocolo padronizado para Autismo, outros protocolos também são utilizados para diagnóstico, assim é possível termos uma avaliação ampla e coerente. Os demais protocolos são para avaliar a possibilidade de TDAH Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade; TOD Transtorno Opositivo Desafiador; TPS Transtorno de Processamento Sensorial; Distúrbios, como: Dislexia, Discalculia, Disgrafia, Disortografia; e Dificuldades de Aprendizagem, como: Hiperassimilação, Hipoacomodação, Hiperacomodação e Hipoacomodação. Também é realizada: Anamnese (entrevista) com os pais ou responsáveis; Entrevista com a escola ou análise dos relatórios; Revisão de registros médicos relevantes; Avaliação cognitiva, psicomotora, psicolinguística de desenvolvimento; Observação direta do jogo, análise das habilidades sociais; Medição do funcionamento adaptativo; Análise das alterações sensoriais e dos comportamentos repetitivos; Análise dos comportamentos disruptivos; Análise socioemocional; Entre outros de igual relevância para o diagnóstico. Os resultados me mostrarão qual real motivo do atraso no desenvolvimento, se existe um diagnóstico e inclusive suas comorbidades.

 

NOR: E quando o resultado realmente for um diagnóstico de Autismo?

 

Dra. Regiane: Assim que o diagnóstico for fechado, inclusive pelo médico, o profissional ou a equipe multiprofissional, irá desenvolver o Projeto Terapêutico, com base nas necessidades sociais e educacionais da criança ou adolescente, que pode conter terapias com neuropsicologia, psicopedagogia, terapia ocupacional, fonoaudiologia entre outras. Também deve ser traçado um mapa de orientações para a família e a escola. As orientações podem modificar de acordo com o processo de intervenção. O que sempre digo para as famílias, é que o diagnóstico deve nos mostrar que caminho seguir para o desenvolvimento da criança ou adolescente e auxiliar a família e a escola nesta caminhada, que não é fácil, mas com certeza será a um grande aprendizado. E vale lembrar que diagnóstico não é destino, é uma ferramenta de autoconhecimento.

 

NOR: Existem muitos adultos procurando diagnóstico?

 

Dra. Regiane: Sim. A maioria dos adultos sem diagnóstico passaram toda vida sendo tratados como neurotípicos (pessoas que não são acometidas por nenhuma neuropatologia ou psicopatologia), mas com "comportamentos estranhos". Em grande parte da literatura sobre este tema, muito se fala da criança autista, e esquece-se que a criança cresce e sendo o autismo “não curável”, logo teremos adultos autistas com ou sem diagnósticos, por este motivo é necessário entender a fundo suas características a fim de promover informações adequadas, bem como diagnósticos e intervenções efetivas. Existem diferentes fatores que indicam um possível diagnóstico de autismo no adulto, mas na maioria das vezes eles procuram, pois, uma criança da família recebeu o diagnóstico e os adultos também querem saber se tem ou não.

 

NOR: Porque o diagnóstico é importante?

 

Dra. Regiane: Porque é através dele que as pessoas se conhecerão melhor, entenderão seus limites, irão potencializar suas habilidades, encontrarão serviços adequados, terão seus direitos garantidos. Enfim, a partir do diagnóstico iniciará um novo ciclo em suas vidas. É claro que sempre será um desafio, uma luta, mas as conquistas também virão e farão parte desta incrível jornada. E eu agradeço ao NOR, na pessoa do jornalista Gilberto de Almeida por este espaço, principalmente por levar informação coerente as pessoas.

 

Dra. Regiane Souza Neves – doutora e mestra em saúde mental, neuropsicologa, neuropsicopedagoga, psicanalista, psicomotricista, psicopedagoga e pedagoga.